Dia Mundial do Combate ao Bullying: como identificar sinais e evitar a prática nas escolas

Dia Mundial do Combate ao Bullying (20), tem como objetivo alertar e informar sobre as violências verbais, psicológicas e físicas, sofridas por crianças, adolescentes e jovens dentro de ambientes educacionais, ou até mesmo fora, e que configuram atos criminosos que proporcionam muito sofrimento, angústia e dor.

A psicóloga, Aline Fontenla, explicou como identificar esses sinais nas vítimas e também nos agressores, para tentar entender a raiz desses comportamentos e o sofrimento que ele causa. No Atlas da Violência de 2024, divulgado pelo Ipea, na categoria “violência psicológica” está a definição:

“Toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, cobrança exagerada, punições humilhantes e utilização da pessoa para atender às necessidades psíquicas de outrem. É toda ação que coloque em risco ou cause dano à autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa. (…). O bullying é outro exemplo de violência psicológica, que se manifesta em ambientes escolares ou outros meios, como o cyberbullying.”

1- Existem sinais que podem indicar que uma criança ou adolescente sofre bullying?

Para a psicóloga, existem alguns sinais que podem indicar uma possível vítima de bullying, eles indicam, principalmente, uma mudança no comportamento daquele jovem, que antes era de uma forma e depois se tornou uma pessoa completamente diferente para os seus conhecidos. São eles:

  1. Mudança brusca ou gradativa de comportamento
  2. Isolamento
  3. Introspecção
  4. Agressividade
  5. Baixo rendimento na escola
  6. Resistência para ir a escola

2- De que forma os pais podem ajudar nessa situação?

Aline explicou que a melhor forma de ajudar nessa situação é com comportamentos que antecedem o problema, ou seja, primeiramente, manter um canal aberto em casa para que a criança saiba que possui total liberdade para compartilhar com os pais qualquer questão que a aflige. É preciso que este jovem se sinta seguro ao contar para os seus responsáveis sobre o assunto.

No caso desse canal não estar aberto em casa, os pais devem então procurar um adulto em que a vítima possa confiar, como um tio, uma avó ou amigo, para tentar extrair essa informação e tirar o jovem deste sofrimento com as precauções necessárias.

Os pais ou responsáveis devem também ir até a escola para entender a situação e cobrar da escola medidas de proteção maior e uma posição ativa no assunto. E se essa criança já apresenta um quadro de mudanças de comportamentos severos e está mais depressiva, é essencial buscar nesse momento ajuda profissional psicológica para a vítima.

Bullying pode surgir por meio de diversas formas de violência, física, psicológica, sexual e patrimonial — Foto: Freepik

3- Na maioria das vezes isso ocorre nos ambientes escolares, como os profissionais da escola podem ajudar a prevenir esse tipo de comportamento?

“De acordo com a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), apresentada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujos dados foram divulgados pelo Inep, em 2019, o ambiente escolar brasileiro é duas vezes mais suscetível ao bullying do que a média geral das instituições de ensino em 48 países, que a pesquisa analisou, também chamando atenção de que as escolas brasileiras precisam de medidas mais enérgicas contra o bullying no ambiente escolar.”, ressalta trecho da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar de 2019.

A psicóloga explicou que a escola precisa estar comprometida em trabalhos contra o bullying, com rodas de conversas, palestras, campanhas sobre a dimensão da criminalidade que o bullying pode chegar, ou seja, deixar bem claro as consequências legais para aqueles que praticam o ato, já que muitos jovens esquecem que se trata de um crime.

“Mais importante que isso é trabalhar o conceito da empatia, do colocar-se no lugar do outro […] fazer com que essas crianças e adolescentes entendam que a partir do momento que alguém entra em sofrimento deixa de ser brincadeira, não é mais legal.”, reforçou Aline.

4- Existe um motivo ou uma razão pela qual uma criança ou adolescente sofre bullying, ou isso é um mito?

Apesar de não existir uma regra para os que sofrem com o bullying, a psicóloga explicou que existe sim um conjunto de fatores e características que são mais propícios de influenciar esse ato. Na maioria das vezes está ligado a características físicas, como cor da pele, cabelo, e traços da fisionomia que se destacam ou não se encaixam em um padrão desejado.

“A gente percebe que tem uma questão racial, a cor da pele, a etnia, questões religiosas […] São elementos que de um modo geral estão se repetindo, então a gente não pode dizer que isso seja mito, são características que estão mais presentes.”

Por esse motivo, Aline ressaltou a importância de trabalhar algumas questões de forma preventiva. A escola pode elaborar projetos sobre aceitação e diversidade, pois existem algumas características que colocam a criança ou adolescente em uma situação mais suscetível ao bullying.

5- Além dos sinais da vítima, quais sinais podemos detectar do agressor?

Segundo a psicóloga, o agressor, aquele que pratica o bullying, ele geralmente não pratica sozinho. Ele tem um grupo de amigos que, de certa forma, oferecem uma segurança para ele naquele ambiente. O que traz o alerta para um outro ponto, esse grupo que pratica este ato também precisa de atenção, porque muitas vezes também são vítimas em outros ambientes fora da escola.

“A gente pode até pensar que ele também sofre o bullying as vezes na rua, dentro de casa, de um irmão, ou até de um pai e uma mãe, que fazem brincadeiras inadequadas, a onde deixam ele com uma sensação de “menos valia” e ele chega na escola e ele replica isso em alguém mais vulnerável, que é uma forma dele não se sentir tão mal.”

Neste caso, que é bem comum, quem pode identificar isso é a escola e não a família, já que o problema se encontra muitas vezes naqueles que deveriam proteger e orientar esse jovem. O objetivo é romper esse ciclo de violência com a ajuda também de profissionais de psicopedagogia.

6- E como os pais podem intervir caso o filho(a) esteja fazendo bullying com outras pessoas?

Os pais só irão fazer algo a respeito do assunto caso eles mesmo não sejam a fonte do problema a qual esta criança está replicando ou refletindo. Então neste cenário, Aline explicou que os pais não precisam tratar o filho como um monstro, mas que ao mesmo tempo precisam olhar pra esse filho pra entender o porquê ele precisa diminuir alguém para se sentir melhor. Assim será possível identificar a raiz do problema e tratar esse jovem para que ele deixe de ser uma agressor, o que é possível.

“A gente precisa pensar que em um cenário de violência, toda e qualquer forma de violência, pode-se fazer uma leitura que é bullying dentro da escola. Bullying não é brincadeira, se tem alguém sofrendo a gente não pode aceitar mais.”, finalizou a psicóloga.

Sobre Fernando Bruder

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