Amigo, não sei se você vai concordar comigo. É um pensamento que começou a aparecer há algum tempo e que tomou conta dos meus dias. É o seguinte: a insegurança é um dos piores males que pode nos ocorrer. A insegurança é terrível. Ela pode ter motivo ou, simplesmente, ocorrer. E quanto mais você tenta expulsá-la, mais ela se acomoda em seus pensamentos, perturbando dias e noites.
A velhice é considerada a melhor idade, por vários motivos. Você não precisa mais procurar emprego, seus filhos não precisam tanto de sua assistência, não é escravo do relógio e está mais livre para fazer apenas o que lhe causa prazer. Seria um paraíso se fosse só isso. Um paraíso aqui na terra. Mas, e na vida sempre existe um mas, há as coisas ruins também. Há o desgaste do corpo, há as dores, as doenças. E entre esses males, a insegurança. Na velhice, há a tendência à insegurança. E não é sem motivo. Você perde a força física. E essa perda acarreta, além das limitações, insegurança. E se você precisar dessa força que já não tem?
Não é fácil. Por causa dessa perda, você começa a abandonar certas atividades que lhe eram comuns, no ado. Se você tem uma queda, é difícil levantar-se sem ajuda. Então, procura não fazer atividades que possam resultar em quedas. Na rua, anda mais devagar e olhando para o chão. Vá que haja uma saliência que o faça tropeçar. E convenhamos que as calçadas de Botucatu são um convite para os tropeços e quedas.
Na velhice, a insegurança também é gerada pela perda de memória. É normal você não ter a mesma memória da juventude. Faz parte da natureza. Quantas vezes, ao abrir a geladeira, você não sabia o que estava procurando? Comigo, isso não é raro acontecer. Esses pequenos esquecimentos podem ser parcialmente resolvidos com uma boa agenda. O difícil é quando você se esquece de consultar a agenda. Ainda bem que aqui em casa minha mulher é a memória. Ela não me deixa esquecer as principais responsabilidades.
Há, no entanto, outros tipos de insegurança. que independem da idade. A política, por exemplo. Estamos numa época de inseguranças. As coisas estão tão nebulosas, que não sabemos ao certo o que podemos e o que não podemos dizer. Se continuar assim, logo não saberemos em que podemos pensar. O pior é quando percebemos que uns podem dizer e outros não podem. E a isonomia vai para o brejo. E o que você faz para se proteger? Abre mão de dizer o que está pensando. No final da minha carreira, eu costumava dizer para os meus alunos: Já lutei as minhas lutas; é hora de vocês lutarem as suas. Já era insegurança.
Você se sente seguro para sair de casa, à noite? Eu não. E isso não é coisa de velho. Os jovens já não se sentem seguros para ir à escola, a pé. Vão de carro, ou de ônibus, ou de van. É a insegurança da vida moderna.
Para se viver melhor, é preciso saber superar nossas inseguranças. Ou pelo menos, não ser escravos delas. Saber vencê-las. Acomodá-las no esquecimento. É possível.
Bahige Fadel